
No domínio da poesia, mais do que na prosa, o crítico tem de exercer o seu trabalho com uma minúcia adicional, isto é, enquanto que uma prosa tem o seu sentido estrito e dilatado, um verso monóstico pode ser tanto concreto como abstrato ou metafísico.
Coube-me olhar para o “Avalanche”, o mais recente livro de Marta Chaves, que constitui indubitavelmente as linhas da poesia contemporânea – o amor aos monósticos e dísticos, os versos demasiado trabalhados sem que os precedentes e posteriores sejam de igual finura, as metáforas vazias e as hipérboles impróprias. Na globalidade, este livro de poesia – que se enuncia frio mas dá-se quente –, ainda que contenha bons poemas, não é um bom livro de poesia: por muito brilho que determinado poema emane, somente dez ou quinze páginas depois é que encontramos outro assim –: vale notar, portanto, que este não é um livro para êxtase ou júbilo – desengane-se quem o comprar com tais pretensões –, antes para a recriação intelectual mínima após um dia de trabalho ou um bom acompanhante para uma tarde no café.
Não posso julgar se Marta Chaves é ou não uma boa poetisa, pois sei que tem mais trabalhos publicados, embora só neste tenha incorrido. Na ausência de mais conhecimento de causa, direi que um livro não determina uma poetisa: se os livros anteriores forem bons, “Avalanche” ficará para a história como um pequeno deslize na obra de Marta Chaves; se, porventura, os outros livros se assemelharem a este, talvez Marta Chaves queira pensar muito bem antes da sua próxima publicação.