Boas Festas! A maior e melhor edição deste ano, com Tibério Graco, Rei Édipo, Edward Said, Bárbara Virgínia, o Jogo do Pau, Recursos Infinitos, Eugénio e Cesário, Playboy, Filosofia do Corpo, Heliogabalo, e muito mais.
Edward Said: Democracia e Humanismo em Estado de Crítica Permanente
Começamos com um ensaio de Francisco Chagas de Oliveira com um breve panorama das formas de acepção do conceito de humanismo na obra de Edward Said, que se esforça em investigar o conceito de “leitura em contraponto”, instrumento analítico proposto no interior de sua obra.
Bárbara Virgínia: a Primeira Realizadora de uma Longa Metragem Sonora em Portugal
Madalena e Rafael Romão Mira trazem-nos uma encantadora biografia de uma cineasta portuguesa, focada no seu percurso nos anos quarenta do passado século e na realização da longa- metragem Três Dias sem Deus, de 1945.
Rei Édipo: do Texto Clássico ao Questionamento Pós- Moderno
Ricardo Boléo presenteia-nos com um bom ensaio: uma leitura não necessariamente freudiana da peça de Sófocles, atendendo à transformação da psique do herói de ontem na mente de hoje.
O Jogo do Pau: uma Arte Marcial Renascida
Marco Serote Roos apresenta-nos uma fantástica excursão sobre as expressões e história desta pouco conhecida e pouco divulgada arte marcial autenticamente portuguesa, de raízes europeias e mediterrâneas.
Tibério Semprónio Graco e o seu impacto na queda da República Romana
Daniel Cardoso Almeida traz-nos uma análise do mandato do romano Tibério Graco como tribuno da plebe e a sua legislação, e de que formas isto teve impacto na República; das relações sociais entre os seus apoiantes e oponentes, particularmente Marco Otávio; e uma análise geral sobre o impacto que teve na queda da República.
O Cinema Inicial como Substituto das Artes Figurativas Tradicionais
Será que o advento do cinema implica uma rotura com tipos de representação mais familiares (i.e. as artes figurativas ditas tradicionais, como a pintura e a escultura) que existiam antes? Antes pelo contrário. Sílvia Diogo explica como.
Sobre Satchmo: um outro nome para “alegria”
Sofia Alexandra Carvalho brinda-nos com um simpático texto, de Nova Orleães para o mundo, que recorda o “embaixador da alegria”, um pioneiro cujo nome é sinónimo da palavra jazz, Louis Armstrong (1901 – 1971).
Ricardo Fortunato traz-nos uma tese contra-intuitiva na crónica Os “Recursos” do “Planeta” São “Infinitos”, conforme a concepção de um ecossistema dinâmico do planeta que tem em conta (1) a complexidade dos elementos e das relações que o constituem e (2) o registo da história da humanidade que conhecemos.
Marcas Portuguesas de Relógios… e de Automóveis
Portugal teve várias marcas no universo automóvel e relojoeiro. No mundo dos carros, uma marca destaca- se por ter criado o seu próprio motor. Na relojoaria, outra por criar os seus mecanismos internos. Nuno Lopes Margalha explora nomes que tiveram impacto nestes sectores, em parceria com o Instituto Português de Relojoaria.
Peace to mutants #7 — Cranford Nix, The Futures, Lena d’Água
Cláudia Zafre again travels into the dark and light of obscure musical entries, this time featuring a punk and folk short-lived musician, a sould band from sixties Philadelphia and a portuguese dreamy female singer.
Conversas de Ana Vieira Vicente: Educação, Ser e o Futuro com Rui Caria
Conversa de Ana Vieira Vicente com Rui Caria, docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, sobre o modelo universitário vigente, a educação vocacional e a educação crítica, e o futuro da profissão. Clique no vídeo ou veja aqui.
Sobre Retórica e Dialéctica na Contemporaneidade
Sobre como duas artes fundamentais na antiguidade para a robustez do pensamento e do discurso são hoje encaradas com desconfiança como meros artifícios de forma e não como substancialmente importantes, numa crónica de João N.S. Almeida.
As Inovadoras Entrevistas da Revista Playboy
Pouco conhecida em Portugal sob esta vertente, a revolução cultural da revista Playboy não passou só pelo erotismo mas também pelo espírito libertário de expressão e pensamento que orientou a sua linha editorial, tanto nos conteúdos apresentados como nas entrevistas que realizava. Luther King, Malcom X, Hoffa, Fidel Castro, Nabokov, Genet, Dali, os Beatles, foram alguns dos retratados. Todos os links aqui.
Dois ensaios sobre literatura portuguesa, o primeiro de Alexandra Cleanu, num debruçar atento sobre alguns poemas que compõem Ostinato Rigore (1991), de Eugénio de Andrade, descobre-se a maneira como a “palavra plena”, enquanto ideal de espelho e de imagem da transparência do homem ao homem, é uma exploração constante da perfeição última do silêncio poético.
O Cesário de Philèas Lebesgue: Swinburnesco e Adorador do Realismo
Ana Mendes da Silva traz-nos, por seu lado, algumas observações sobre um cronista e crítico oitocentista pouco conhecido, Philèas Lebesgue, que fez algumas leituras mais ou menos inéditas sobre aspectos na poesia de Cesário Verde.
A Estranha Alegria de Alguns Sectores Políticos Aquando da Morte dos seus Inimigos
Um lembrete editorial premente: sobre o como e o porquê de certos sectores políticos comemorarem com barbarismo, calculismo e imberbidade a morte dos seus inimigos, e outros não.
Criacionismo, Exegese e Criacionismo Antropológico
Mais um lembrete editorial sobre duas falácias conceptuais: a ideia de que o criacionismo religioso é, ou alguma vez foi, uma doutrina importante e dominante, e a ideia de que o criacionismo antropológico — pensar que há “povos” que são “originais” de determinados sítios — tem o mínimo de substância.
Sugestões: História de Arte, Economia, Filosofia, Evangelhos Apócrifos e Heliogabalo
Quatro excelentes obras de história de arte, em grande formato, retratando com grande qualidade de impressão muitas das obras abordadas. São elas A New History of Italian Renaissance Art, com argumentos históricos sólidos sobre o papel da iniciativa privada e da competição entre estados na proficuidade da produção artística no período; 19th-Century Art, de Rosenblum e Janson, abordando toda a vitalidade produtiva dos períodos pós- revolucionários na américa e na europa; Nineteenth Century Art: A Critical History, da Thames and Hudson, focando-se em dinâmicas de raça, género, classe social e coisas que tais, sobre o mesmo período; e Art Since 1900, de Foster e Krauss, entre outros, com cuidadosa classificação da miríade de escolas artísticas do século XX.
Recomendámos várias obras documentais, de audiovisual, sobre filosofias económicas. É difícil navegar a oferta dentro desse mundo, pois abundam entradas do género alarmista, programático, catastrofista: análises histéricas às “crises do capitalismo”, abordagens beatas e moralistas ao pecado da dívida, teorias da conspiração sobre bancos mundiais e controle da população, etc. Tentámos manter os pés na terra e sugerir algumas obras lúcidas, acessíveis ao público em geral e até optimistas. São seguramente escolhas acima da média: se verificarem listas de documentários contemporâneos sobre o tema, contemplarão exactamente o tom sensacionalista, alarmista, descontrolado e sem juízo crítico e histórico sério que infelizmente domina o panorama do género. Lista completa aqui.
Novidades editoriais da filosofia. De Robert M. Sapolsky, Determined: A Science of Life Without Free Will, uma revisão do estado-da-arte da causalidade nos processos mentais, a sua relação com o mundo e o determinismo, pegando em muitos exemplos da ciência moderna. De Artūrs Logins, Normative reasons: between reasoning and explanation, com uma teoria sobre o estabelecimento de factos morais e a sua interacção com as faculdades da razão. Numa área semelhante, Juan Comesaña, Being Rational and Being Right, sobre como a assunção de factos falsos modifica a forma lógica do raciocínio. E de Robert W. Batterman, A Middle Way: A Non-Fundamental Approach to Many-Body Physics, sobre a aplicação ao estudo filosófico de alguns métodos conceptuais mais raros usados nalguns ramos da física como a climatologia, e que não se baseiam na reconstrução e no reducionismo às partículas mínimas.
Ainda, de Zach Weber, Paradoxes and Inconsistent Mathematics, um volume sobre paradoxos matemáticos e a sua conjugação com escolas filosóficas baseadas em proposições de valor exclusivamente verdadeiro ou falso. Depois, de Igor Douven, The Art of Abduction, sobre o modo silogístico- lógico da abdução, que, ao contrário da dedução, se baseia não em provas absolutamente verificáveis mas somente prováveis, actuando, de certo modo, através do coerentismo. Ainda, de J. Adam Carter, Autonomous knowledge: radical enhancement, autonomy, and the future of knowing, um curioso volume sobre o papel da característica da autonomia na constituição do conhecimento, referindo-se à singularidade do indivíduo que empreende o conhecimento. Por último, de Jay L. Garfield, Losing Ourselves: Learning to Live Without a Self, que propõe um modelo conceptual em que o eu é substuído pela pessoa, uma abordagem não inédita e baseada em parte na filosofia oriental.
Sobre filosofia do corpo e do desporto. Um tomo magnífico, o The Oxford Companion to the Body, que agrega tópicos variadíssimos sobre o corpo, desde vampiros, gravidez, acne, violência, a laringe e a faringe e os estudos de Da Vinci, até ao racismo e à santidade; o Routledge Handbook of Body Studies, que agrega ensaios, desde a questão inicial do que constitui um corpo, até às ligações do mesmo com a religião, com a medicina e com a tecnologia; o trabalho germinal de Paul Weiss, Sport: A Philosophical Inquiry, com uma perspectiva filosófica de raiz platónica; e o Routledge Handbook of the Philosophy of Sport, agregando as principais categorias e temáticas dessa área, em ensaios sobre tecnologia, a competição, a ética e a estética, as regras e as leis, a justiça.
Quatro edições portuguesas de alguns documentos da literatura cristã excluídos do cânone bíblico mas parte de tradições alternativas da exegese. Produzidos entre o primeiro e o terceiro séculos desta era, foram remetidos para o esquecimento e para a proibição após o primeiro conselho de Niceia, em 325 AD. Excluída da ortodoxia centralizadora e uniformizadora ficava assim a tradição gnóstica, que enfatizava a revelação pessoal não intermediada pela autoridade religiosa, e na qual todos estes documentos, assim como os canonizados nos textos sagrados, circulavam livremente, durante os três primeiros séculos da construção e estruturação do culto cristão. Eis as edições da Ésquilo com tradução de Luís Filipe Sarmento, em três volumes, e a mais recente de Frederico Lourenço, na Quetzal.
E duas obras fantásticas sobre o imperador romano Heliogabalo, que reinou entre os seus 14 e 18 anos, em 218 AD, hoje referido na comunicação social de forma absurdamente anacrónica e inexacta como “trans“. Era, na verdade, louco, anarquista e pontualmente travesti: acabou por tomar um “supressor hormonal” muito eficaz que consistia em ser-se assassinado, algo muito comum à época. Consultem as suas biografias. Deixamos duas sugestões: as compsições de John Zorn, de 2007, e a monografia de Antonin Artaud, de 1934. Escutem as primeiras aqui e leiam as segundas ali.
Boas Festas
e Mil Agradecimentos a Autores e Leitores!
Chegamos ao fim do ano de 2023 e início de 2024, data que marca também o segundo aniversário desta publicação. Orgulhamo-nos de sermos um espaço que funciona como, em primeiro lugar, um fórum livre de apresentação e debate de ideias, um repositório de textos — ensaios, críticas e crónicas de âmbito académico dirigidos ao público em geral — e uma voz forte e interventiva naquela que é hoje uma parte incontornável do discurso público, as redes sociais.
Depois de quase trezentos ensaios publicados, quinhentas partilhas diárias de conteúdo, e muita conversa, debates, discussões e ideias, queremos agradecer em particular a algumas pessoas que connosco têm colaborado muito proximamente, como Tomás Vicente Ferreira, Silva Diogo, Ana Vieira Vicente, Sofia Alexandra Carvalho, Mafalda Simão Leal, Nuno Lopes Margalha, Cláudia Zafre, entre outras.
Agradecemos e enviamos um abraço de simpatia e gratidão também àquelas que nos têm honrado com colaborações e contribuições mais pontuais mas numerosas e/ou importantes, como Lauro Reis, Alexandra Cleanu, Gonçalo Fernandes, Vítor Rua, Antonio Marques Pereira, Cristina Costa, Rui Caria, Itélio Muchisse, Luís Coelho, Victor Vicente, António M. Feijó, Mariana Franco da Silva, Charles da Silva Rodrigues, Guilherme Berjano Valente, Miguel Silva Graça, Jéssica Pinto, e os nossos queridos consultores Diogo Ribeiro Santos, Jorge Buescu, Pedro Galvão, Hélio Alves e Luís Pereira Coutinho. Muito estimamos todas estas participações, com as quais esperamos continuar a contar, estando sempre abertos a mais propostas de colaboração, submissão de textos, e lançamento e debate de ideias, advindos quer do mundo académico quer da sociedade civil em geral.
Desejamos assim umas boas festas e um grande e muito bom ano novo para todos! E mil obrigados.
Em nome da direcção e de todos,
João N.S. Almeida, Ricardo Fortunato e Ana de Oliveira Sérgio
Os Três Artigos Mais Lidos do Ano
Como já é habitual, no final de cada ano fazemos as contas e premiamos com gratidão, amizade e um vale da Wook para cada um dos autores, os três artigos mais lidos do ano. Aqui estão eles:
E se os Centros Comerciais não Imitassem a Cidade, mas a Construíssem?
De Miguel Silva Graça, sobre o futuro do consumo, do comércio a retalho e dos centros comerciais nas cidades em Portugal e na Europa.
A Poética do Sublime em Kant no Cinema de Andrei Tarkovsky
De Marta Silva de Almeida, pensando acerca da dicotomia entre belo e sublime em Kant, propõe-se observar o cinema de Andrei Tarkovsky através de uma visão do conceito de sublime.
Sobre realismo e antirrealismo científico: o argumento do milagre
De Carla Feliciano, uma breve revisão acerca de um dos argumentos mais influentes em favor do realismo científico, e também sobre três ataques ou desafios que lhe foram dirigidos.
Deixamos também aqui cinco menções honrosas de artigos que se aproximaram desse pódio. São eles Como É, Como Ter e Como Tratar de um Cavalo, de Ana Vieira Vicente; Acerca da Histeria Bovina nas Redes Sociais quanto a Afirmações Comuns, de Ricardo Fortunato; Lux em Lisboa: Entre o Brilho Superficial e a Relevância Cultural, de Vítor Rua; Direitos de Seres Sencientes a Partir do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, de Miguel Furtado; e Somos Inteligentes o Bastante para Saber quão Ignorante é a Nossa Crítica Musical em Portugal?, também de Vítor Rua. Um grande obrigado a todos!
E Mais Boas Festas:
“The Other 100 Greatest Movie Insults of All Time”!
Porque o modo discursivo de desejar boas festas e felicidades a todos é parecido com o do piropo ou o do insulto, aqui deixamos, à semelhança do ano passado, mais um excelente vídeo de Harry Hanrahan: “The Other 100 Greatest Movie Insults of All Time”!
Novamente, o convite para submeterem propostas e artigos — ensaios, crónicas e críticas — numa fase já concluída ou enquanto versões incompletas, esboços ou ideias, sobre temas das vossas áreas de estudo e investigação ou sobre o que preferirem. Aproveitem conteúdos desperdiçados — trabalhos para cadeiras e seminários, apontamentos, estudos parciais, trabalhos de campo, relatórios, registos de conversas e debates, etc. — para os dar a conhecer ao mundo. Ajudamos a convertê-los em formato legíveis pelo público em geral. Contactem-nos em geral@revistaminerva.pt.
Imagem: retrato da imperatriz chinesa Dowager Cixi (1835–1908), da autoria de Hubert Voos, de 1905, ávida coleccionadora de arte e um dos primeiros governantes modernos a entender o poder da imagem na propaganda política e na diplomacia