Dupla Excepcionalidade (Sobredotação e Transtorno) — Revisão Bibliométrica

O objeto desta pesquisa refere-se a conhecer e compreender o que temos de literatura, o que ela nos apresenta sobre a concepção de Dupla Excepcionalidade (DE). Pressupõe-se encontrar o que os pesquisadores têm investido em investigar, no campo das produções científicas acerca da DE. Delimita-se a pesquisa a duas bases de dados de grande importância para o cenário nacional e internacional. A natureza deste estudo delineou-se mediante os limites e possibilidades da investigação, com uma abordagem metodológica qualitativa pautada na revisão sistemática de literatura. Com este trabalho, foi utilizado como método de pesquisa da literatura a busca sistemática, em duas base de dados on-line, Web of Science (WOS) e Scopus, seguida de uma análise bibliométrica dos resultados. Os dados bibliométricos dos 309 documentos do Scopus e 124 trabalhos da plataforma WOS foram analisados pelo software Bibliometrix. Como resultados, dentre outros, foi possível identificar os conceitos que mais se assemelham no que tange a DE.Os estudos iniciais datam de 1975. Percebemos a crescente cronológica de publicação , que países mais produzem pesquisas na área e que relações,quanto ao impacto de citações, são estabelecidas entre essas publicações. Desta forma, acreditamos ter atingido o objetivo de investigação proposto com esta pesquisa. PALAVRAS -CHAVES: dupla excepcionalidade – altas habilidades – superdotação –deficiência – bibliometria.

INTRODUÇÃO

O presente artigo nasce a partir da atuação do pesquisador como professor assessor de Altas Habilidades/ Superdotação – AH/SD, na Escola de Educação Básica Simão José Hess, localizada no centro de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, no Brasil. Durante os atendimentos com os estudantes já incluído no Atendimento Educacional Altas Habilidades/Superdotação ( AEE – AH/SD), do Polo da citada escola, nos deparamos com estudantes que outrora havia sido “incluído” no atendimento para estudantes com AH/SD, e inicia processo investigativo para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista ( TEA). Daí, decorre um emaranhado de perguntas, tais como: Como ele pode ser atendido como superdotado? Ele nem lê! Ele tem interesse em dinossauro, é hiperfoco! Todavia, este estudante tem um repertório avançado para sua idade quando o assunto é aves, fauna e flora. Ainda que haja expressivo interesse por dinossauro, desenha bem e contextualiza as situações apresentadas.

Com base no que temos apresentado, decorre que os sujeitos que possam apresentar comportamentos de pessoa com AH/SD em uma área ou mais de conhecimento, mas que também apresentam TEA, ou outra deficiência, têm tido os seus potenciais invisibilizados. Tais ocorrências carecem de urgente investigação, no sentido de conhecer e compreender o que a literatura nos apresenta sobre a concepção de Dupla Excepcionalidade (DE). Para Nakano e Alves (2021), a DE se marca pela presença de dois diagnósticos distintos: um, de habilidade acima da média, o outro, associada a prejuízos significativos em outras áreas.

A investigação justifica-se pela escassez de material que norteiam o fazer profissional de professores das classes regulares de ensino, gestores e profissionais envolvidos no processo de busca ativa, e identificação aos estudantes com indicadores de AH/SD. Sobretudo, para que não ocorram processos de exclusão de estudantes com deficiência ou TEA, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, mas que, por excelência, possam apresentar expressivo conhecimento sobre uma determinada área ou mais do conhecimento. Desta forma, acredita-se que possamos apresentar um panorama geral da literatura sobre o tema, além de contribuir para o declínio de práticas de raiz capacitista com o potencial de castrar os potenciais humanos em razão da sua condição de ser e sentir o mundo .

Muito além, são os mitos que corroboram para não identificação dos sujeitos com AH/SD; no caso da dupla excepcionalidade, acresce que estes são interseccionados, pois eleva cada vez mais o nível de exigência para lhe conferir a superdotação. Por exemplo, o sujeito com dificuldade de compreender cálculo ou situações abstratas tampouco vai ser indicado acima da média; o estudante dislexico dificilmente tirará nota máxima na produção textual, mas com excelência pode ter alta performance em outras áreas que não acadêmicas, menos valorizadas pelo meio científico.

Considerando as justificativas que têm sido apresentadas neste texto, o objetivo deste trabalho é conhecer e compreender o que a literatura nos apresenta sobre a concepção de DE.

A Dupla Excepcionalidade em Santa Catarina

No estado de Santa Catarina, em 2021, foram lançadas as Diretrizes do Atendimento Educacional Especializado (AEE) que, “desde a publicação da Política de Educação Especial de Santa Catarina, em 2006, aguardava orientações específicas para atuação nas diferentes áreas de atendimento” (SANTA CATARINA, 2021, p.6). Cumpre destacar que o estado catarinense já possuía uma política estadual de educação especial antes mesmo da política nacional. (SANTA CATARINA, 2006; 2021)

Com a chegada das diretrizes, o atendimento especializado das escolas catarinenses passaram a operacionalizar conforme suas diretrizes próprias, mas considerando outros documentos nacionais como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e demais documentos, como decretos estaduais e federais.

Conforme disposto no documento, o objetivo das diretrizes foi:

Apresentar a professores e a gestores as diretrizes para o AEE ofertado a estudantes com deficiências, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), matriculados na rede regular de ensino de Santa Catarina”.(SANTA CATARINA, 2021, p.11)

O documento apresentado não faz nenhuma menção ao conceito de dupla condição ou dupla excepcionalidade: ele lista TEA e TDAH como deficiências, e AH/SD como operacionalização individualizada.

No mesmo ano, conscientes da necessidade de orientar os profissionais e consequentemente da existência de estudantes com dupla condição, a Fundação Catarinense de Educação Especial ( FCEE), encaminhou aos polos AEE um documento orientador para o atendimento no AEE AH/SD para estudantes com dupla excepcionalidades. No qual ratificou o conceito de AH/SD e posterior de dupla condição. Vejamos a seguir:

A dupla excepcionalidade se marca pela presença de dois diagnósticos distintos, de habilidade acima da média associada a prejuízos importantes em outra área. (Nakano e Alves, 2021). Podemos destacar a dupla excepcionalidade como sendo caracterizada quando um indivíduo apresenta “alta performance, talento, habilidade ou potencial, ocorrendo em conjunto com uma desordem” destas podem ser comportamental e/ou de aprendizagem como por exemplo: Altas Habilidades e Transtorno do Espectro Autista; Altas Habilidades e Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade; Altas Habilidades e Transtorno Específicos da Aprendizagem – TA; Altas Habilidades e Deficiência Intelectual. (SANTA CATARINA.2021,sn)

Adiante acrescentou-se que o fenômeno “vem crescendo em estudos e pesquisas científicas em todo o mundo, e na FCEE a demanda desses estudantes para avaliação tem aumentado significativamente”(SANTA CATARINA, 2021,p.sn) Tal documento objetivava orientar aos pólos quanto à inclusão desses estudantes.

Nas orientações dois pontos importantes merecem atenção.Observamos:

  • Conforme estabelecido na Resolução nº 100/2016, se o estudante receber parecer favorável para Segundo Professor, significa que o mesmo apresenta comprometimento significativo nas interações sociais e na funcionalidade acadêmica e que suas demandas ainda não foram sanadas, precisando de apoio. Dessa forma o estudante contemplado com o Serviço Especializado do Segundo Professor de Turma não poderá ser incluído no AEE AH/SD por descaracterizar o processo de suplementação, que é necessária aos estudantes com estes indicativos, uma vez que o Estado assumiu os estudantes com indicadores relativos à Capacidade Intelectual e à Aptidão Acadêmica;
  • Estudantes com indicadores de AH/SD e diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista; Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade; Transtorno Específicos da Aprendizagem e Deficiência Intelectual poderão ser encaminhados para o AEE AH/SD. Porém, caso o estudante já esteja matriculado no AEE Misto, o professor precisa elaborar um relatório no qual conste: habilidades, comportamentos, qual seu grau de envolvimento e comprometimento com a aprendizagem e com a realização das tarefas e atividades da sua área de interesse. Imprescindível pontuar também se já alcançaram os objetivos estabelecidos em relação às suas demandas primárias mais importantes (relacionadas à Deficiência ou Transtorno). E ainda, descrever quais são as habilidades apresentadas acima da média, superior aos seus pares, relacionadas à criatividade e comprometimento com a tarefa. Com estas informações registradas, organizar a documentação correspondente e encaminhar para a inclusão no AEE AH/SD; (SANTA CATARINA,2022,p.sn)

Percebe-se a negativa de direito: para o estado catarinense, o sujeito é AH/SD ou TEA ou TDAH “deficiente”, e logo o atendimento só pode ser suplementar ou complementar. E a dupla condição, como fica? Estará o estado em contradição?

No ano de 2022 nova orientação foi encaminhada aos pólos com a seguinte redação:

No que se refere ao Atendimento Educacional Especializado (AEE AH/SD), o estudante que apresentar algum indicativo de Altas Habilidades/Superdotação e diagnóstico de TDAH ou de TEA (Nível 1) deve ser encaminhado ao AEE Misto/TEA. Para qualificar o trabalho de suplementação na área em que o estudante apresenta destaque, a professora do AEE Misto/TEA receberá orientações da assessora do polo de Atendimento Educacional Especializado de Altas Habilidades/Superdotação (AEE AH/SD), e […]. (SANTA CATARINA, 2022, p.2)

Pode-se entender que dupla condição, de modo geral, restringe-se ao TEA do nível 1, e as deficiências? A surdez, os cegos? Será que Louis Braille não poderia ter sido identificado com AH/SD?

Por fim, o documento aponta as seguintes encaminhamentos:

1. A professora do AEE Misto/TEA deverá realizar parecer pedagógico descritivo acerca dos comportamentos de criatividade, comprometimento com a tarefa e quais as habilidades acima da média estão presentes quando este estudante é comparado aos seus pares da mesma idade e nível escolar. Ressaltamos que este estudante deve apresentar habilidade significativamente superior, em uma ou mais áreas do conhecimento.

2. Este parecer deve ser entregue à gestão escolar que encaminhará para a Coordenadoria Regional de Educação – CRE, junto a um ofício solicitando estudo de caso com a equipe das AH/SD (polo de AEE AH/SD da região, NAAHS, CRE e Secretaria do Estado da Educação).

3. A CRE deverá encaminhar via Sistema de Gestão de Processos Eletrônicos- SGPe para FCEE/NAAHS:

● Ofício solicitando o estudo de caso referente ao estudante com indicadores de AH/SD e outro transtorno associado;

● Ofício da escola solicitando estudo de caso com a equipe das AH/SD;

● Parecer pedagógico descritivo da professora do AEE Misto/TEA.

4. Será marcado e comunicado pela equipe do NAAHS o dia e a hora para o estudo de caso relacionado ao estudante com indicadores de AH/SD e outro transtorno associado.

5. Após estudo de caso, a assessora do polo de AEE AH/SD da região dará as devidas orientações à professora do AEE Misto/TEA quanto ao trabalho no fenômeno das AH/SD, ao processo de avaliação dos indicadores de AH/SD e na suplementação/enriquecimento na(s) área(s) específica(s) que o estudante mais se destaca.

6. O estudante deve ser atendido prioritariamente de forma individual, conforme adequação e disponibilidade do polo de AEE Misto/TEA, a fim de atender às características inerentes ao diagnóstico juntamente com a suplementação/enriquecimento.

7. O estudante deve ser informado no SISGESC como público da Educação Especial, TEA ou TDAH e Altas Habilidades/Superdotação.

Neste contexto, somente serão encaminhados ao polo de AEE AH/SD, os estudantes que não apresentarem diagnóstico de transtorno ou deficiência associada. (SANTA CATARINA, 2022. p.01)

Percebem-se avanços entre os documentos emitidos em 2021 e 2022. Mesmo assim, nota-se um modelo de superdotação centrado na “normalidade” em contrapartida, já que o diagnóstico do transtorno ou deficiência rotulam e insistem em castrar seus potenciais, ou seja, é normal demais para ser deficiente, ou é deficiente demais para ser normal.

Com base nas Diretrizes para o Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Rede Regular de Ensino de Santa Catarina (2021), o NAAH/S do estado (NAAH/S-SC) constitui parte dos serviços prestados pela FCEE. As ações deste Núcleo são fundamentadas nos princípios filosóficos que embasam a educação inclusiva e têm como objetivos definir e coordenar a política de atendimento aos estudantes com indicadores de AH ou SD no estado de Santa Catarina.

Além de identificar, avaliar e atender estudantes com indicadores de AH ou SD, cabe ao NAAH/S-SC ministrar cursos, palestras, seminários e encontros sobre o tema AH ou SD. Desde 2014, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina (SED/SC), vem implantando salas de AEE para estudantes com altas habilidades ou superdotação (AEE-AH/SD) em diversos municípios do estado, descentralizando o serviço e alcançando, dessa forma, maior número de estudantes devidamente identificados e atendidos.

O AEE-AH ou SD é um serviço educacional para estudantes com indicadores de AH/SD. Portanto, o NAAH/S-SC é responsável por acompanhar a demanda desse público nas unidades escolares das diversas regiões do estado; atender estudantes com AH/SD com indicadores relativos à capacidade intelectual e à aptidão acadêmica; encaminhar e acompanhar estudantes com indicadores nas áreas de liderança, artes e psicomotricidade para atendimentos em serviços/projetos na escola e/ou comunidade, de acordo com suas habilidades (SANTA CATARINA, 2021).

Esse serviço pode ter estrutura de polo ou de sala de atendimento. Compreende-se o polo de AEE-AH/SD o serviço que conta com estes dois profissionais: professor e professor assessor; e sala de AEE-AH ou SD quando somente o professor atua. O professor assessor presta orientações aos professores das salas de AEE-AH ou SD. Realiza a avaliação inicial e a articulação dos encaminhamentos necessários para a suplementação das necessidades educacionais dos estudantes e atua de forma itinerante, fazendo identificação de estudantes em escolas da rede adjacentes ao polo. O professor é o profissional que atua no atendimento aos estudantes na sala de AEE-AH ou SD.

Em suas publicações, a FCEE aborda a concepção de superdotação dos três anéis (RENZULLI, 2018, p. 26) que “tenta mostrar as principais dimensões do potencial humano para a produtividade criativa”. O nome é originado a partir da estrutura conceitual da teoria — três conjuntos de traços que interagem, como apresentado na Figura 1:

Figura 1 – Modelo de superdotação dos três anéis.

Fonte: Santa Catarina (2011, p. 11)

Em síntese, a concepção de superdotação dos três anéis é baseada na justaposição e interação dos três conjuntos de traços que originam as condições que favorecem o surgimento dos comportamentos superdotados. Além disso, a superdotação não é um construto estanque e, portanto, compreende comportamentos dinâmicos que podem se apresentar de vários tipos e graus, desenvolvidos por certas pessoas em certos momentos e sob certas circunstâncias (RENZULLI, 2018).

Para atingir nosso objetivo,à pergunta norteadora do estudo, a saber: Qual o estado da arte sobre dupla exepcionalidade? Neste trabalho, foi utilizado como método de pesquisa da literatura a busca sistemática, em duas base de dados on-line, Web of Science (WOS) e Scopus, seguida de uma análise bibliométrica dos resultados.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Como método de pesquisa da literatura utilizou-se da busca sistemática, em uma base de dados on-line, seguida de uma análise bibliométrica dos resultados. A bibliometria é uma metodologia proveniente das ciências da informação que se utiliza de métodos matemáticos e estatísticos, para mapear os documentos a partir de registros bibliográficos armazenados em bases de dados (DE BEM MACHADO; SOUSA;DANDOLIN, 2022). A bibliometria permite apurações relevantes como: número de produção por região; temporalidade das publicações; organização das pesquisas por área do conhecimento; contagem de literatura relacionada à citação do estudo; identificação do fator de impacto de uma publicação científica entre outros que contribuem para a sistematização do resultado da pesquisa e a minimização da ocorrência de vieses ao se analisar um determinado tema. Para a análise bibliométrica o estudo foi organizado em três etapas distintas: planejamento, coleta e resultado. Estas etapas aconteceram de modo convergente para responder à pergunta norteadora do estudo, a saber: Qual o estado da arte sobre dupla exepcionalidade?

O planejamento iniciou-se e finalizou no mês de setembro de 2023, quando a pesquisa foi realizada. Nesta fase, definiu-se alguns critérios como a limitação da busca em base eletrônica de dados, que nos caso dessa pesquisa foi a Web of Science (WOS) e Scopus. O termo de busca escolhido foi “Twice exceptional“.

Para o tratamento e a análise dos dados, utilizou-se o software Bibliometrix, pois por meio do pacote R Bibliometrix, chamado de Biblioshiny, que possui o conjunto de técnicas mais extenso e adequado dentre as ferramentas pesquisadas para análise bibliométrica (MORAL-MUÑOZ, et al., 2020).

Análise Bibliométrica das Publicações Selecionadas.

Os dados bibliométricos dos 309 documentos do Scopus e 124 trabalhos da plataforma WOS foram analisados pelo software Bibliometrix, resultaram no resumo apresentado no quadro 2.

Quadro 2 – Resumo das informações encontradas nas bases de dados

PRINCIPAIS INFORMAÇÕES SOBRE OS DADOSScopusWoS
Período de tempo1975:20231996:2023
Fontes (jornais, livros, etc.)13568
Documentos309124
Palavras-chave do autor612357
Autores525279

Fonte: Autor (2023).

Inicou-se a análise referenciando a taxa de crescimento global do número de publicações científicas, onde constatou-se que teve um aumento de 50% no número de publicações no ano de 2022. A Figura 2 indica o crescente interesse no tema,conforme número de publicações nas bases Scopus e Web of Science.

Figura 2 – Distribuição da publicação ao longo dos anos – Scopus e Web of Science

Fonte: Autor (2023).

Outra análise realizada foi a identificação dos vinte autores mais relevantes, na temática desta pesquisa nas bases Scopus e WOS, que são explicitados na figura 3 e figura 4, respectivamente.

Figura 3 – Autores mais relevantes Scopus

Fonte: Autor (2023).

Figura 4 – Autores mais relevantes Web Of Science.

Fonte: Autor (2023).

Constatou-se que na base de dados scopus o autor referência é Megan Foley Nicpon com 20 citações na área e na Web of Science (WoS) o autor referência é Susan G. Assouline com sete citações na área.

O país que tem mais produção científica na temática, de DE foi os USA com 195 trabalhos na Scopus e na base de dados WOS com 40 publicações na área, conforme Figura 5 e 6, respectivamente.

Figura 5 – Frequência de Publicação por país na base Scopus

Fonte: Autor (2023).

Figura 6 – Frequência de Publicação por país na base WoS.

Fonte: Autor (2023).

A Figura 7 e Figura 8 apresentam a intensidade de publicação por país e a relação estabelecida entre eles, por meio de citações entre trabalhos publicados nas bases de dados Scopus e Web of Science, respectivamente.

Figura 7 – Publicação por país e a relação estabelecida entre eles Scopus

Fonte: Autor (2023).

Figure 8 – Publicação por país e a relação estabelecida entre eles Web of Science

Fonte: Autor (2023).

Constatou-se que a intensidade de publicação está localizada nos continentes da: África, América, Antártica, Ásia, Europa e Oceania que se fazem presentes na relação estabelecida entre eles, por meio de citações entre trabalhos publicados na base de dados.

A partir da análise bibliométrica, com base no grupo de trabalho recuperado nas duas bases de dados, tem-se 612 palavras-chave indicadas pelos autores da base de dados Scopus e 357 da WoS. Ganharam destaque nas duas bases de dados o termo dupla expecionalidade, sendo que na Scopus aparece com 134 ocorrências e na WOS aparece com 42 ocorrências, conforme Figura 9.

Figura 9 – Nuvem de tags Scopus e WOS

Fonte: Autor (2023).

Já os dez documentos mais citados globalmente na base de dados Scopus e Web Of Science estão listados na quadro 2.

Quadro 2: Documentos mais citados nas bases Scopus e Web of Science.

AnoAutoresArtigoNúmero de citações ScopusNúmero de citações WOS
12010NICPON MF et al.Empirical Investigation of Twice-Exceptionality: Where Have We Been and Where Are We Going?168109
22014Reis, S.M et. alAn operational definition of twice-exceptional learners: Implications and applications12166
32010Assouline, S.G Et alCognitive and psychosocial characteristics of gifted students with written language disability9761
42013Foley-Nicpon, M. et. alTwice-Exceptional Learners: Who Needs to Know What?8346
52014Susan M. Baum et al.Through a Different Lens: Reflecting on a Strengths-Based, Talent-Focused Approach for Twice-Exceptional Learners6927
62013Fugate, C.MThrough a Different Lens: Reflecting on a Strengths-Based, Talent-Focused Approach for Twice-Exceptional Learners Memory in Gifted Students With and Without Characteristics of Attention Deficit Hyperactive Disorder: Lifting the Mask6641
72012Susan G. Assouline et al.Predicting the academic achievement of gifted students with autism spectrum disorder6456
82009Assouline, S.G Et alProfoundly gifted girls and autism spectrum disorder: A psychometric case study comparison6345
92011SUSAN G. ASSOULINETwice-Exceptionality: Implications for School Psychologists in the Post-IDEA 2004 Era610
102013Neumeister, K. SThe Influence of Primary Caregivers in Fostering Success in Twice-Exceptional Children490
112013Willard-Holt, C. et alTwice-Exceptional Learners’ Perspectives on Effective Learning Strategies033
122015Rubenstein, LD et. Al.Lived Experiences of Parents of Gifted Students With Autism Spectrum Disorder: The Struggle to Find Appropriate Educational Experiences028

Fonte: Autor (2023).

Dos 12 artigos que compuseram o corpus de análise, 11 identificaram-se como respossta ao tema de dessa pesquisa; “Qual o estado da arte sobre dupla exepcionalidade? que serão discutidos e respondido a seguir.

Estado da arte sobre dupla exepcionalidade.

Conforme a leitura e analise dos artigos selecionados, explicita-se a seguir o conceito de dupla exepcionalidade. Segundo Nicpon MF et al. (2010), dupla exepcionalidade refere-se aos alunos que demonstrem elevada capacidade de desempenho em áreas como capacidade intelectual, criativa, artística ou de liderança, ou em áreas acadêmicas específicas, e que necessitem de serviços ou atividades que normalmente não são fornecidos pela escola para desenvolver plenamente essas capacidades e são intitulados como superdotados e tem deficiência em uma das três áreas específica, a seguir: a) dificuldades específicas de aprendizagem (DTE), (b) transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e (c) transtorno do espectro do autismo (TEA). Já para Reis, S.M et. al (2014) Dupla expecionalidade defini-se como alunos identificados como superdotados e também diagnosticados com uma ou mais categorias de educação especial definidas pela Lei de Educação de Indivíduos com Deficiência (IDEA), com exceção daqueles alunos com deficiências cognitivas.

Para Assouline, S.G Et al (2010), dupla exepcionalidade são estudantes que possuem superdotação e que apresentam dificuldades de aprendizagem. E para Foley-Nicpon, M. et. al (2013) dupla excepcionalidade é quando um aluno superdotado tem uma dessas dessas quatro deficiências: transtornos do espectro do autismo (TEA); dificuldades específicas de aprendizagem (DEL); transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e distúrbios emocionais (DE).

Susan M. Baum et al. (2014), os alunos com dupla exepcionalidade possuem dons e deficiências simultaneamente, as duas excepcionalidades são muitas vezes abordadas separadamente em ambientes educacionais , com pouca consideração pela influência que uma excepcionalidade pode ter sobre a outra.

Susan G. Assouline et al. (2011, 2012) e Assouline, S.G Et al (2009) explicitam que os estudantes dupla exepcionalidade são os superdotados com transtorno do espectro do autismo (TEA). Neumeister, K. S (2013), dupla excepcionalidade são alunos superdotados com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro do autismo (TEA) e dificuldades específicas de aprendizagem. Os alunos sobredotados com qualquer uma destas três excepcionalidades correm o risco de não atingirem o seu potencial como resultado de fatores externos e internos. Externamente, a ausência de um mandato federal para identificação e serviços para estudantes sobredotados resulta numa falta geral de identificação e escassez de programação em muitos estados, mesmo para os estudantes sobredotados sem deficiências. Situação esta vivida pelo Estado brasileiro,não há uma legislação que apresente clareza de como deve ocorrer a suplementação escolar ou complementação no AEE para os estudantes brasileiros que possuem tem DE.

Willard-Holt, C. et al (2013),explicita que os alunos duas vezes excepcionais são incluídos na categoria de “deficiências múltiplas”. O Special Education Companion (Ministério da Educação de Ontário, 2001) mencionou alunos superdotados com dificuldades de aprendizagem e comportamentais, mas considerou as excepcionalidades isoladamente umas das outras. Rubenstein, LD et. Al. (2015) dupla exepcionalidade são estudantes alunos superdotados com TEA apresentam ambas as características associadas à superdotação e ao TEA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal deste artigo foi conhecer e compreender o que temos de literatura e o que ela nos apresenta sobre a concepção de DE, através da revisão sistemática em duas bases de dados Scopus e Web of Science. O total de artigos identificados e aderentes ao foco deste artigo foram 11. Para alcançar esse objetivo foi traçado uma análise bibliométrica e uma análise temática dos artigos.

Constatou-se que o interesse de pesquisadores acerca da DE ainda é tímida, mas crescente. O autor referência na web of Science (WoS) é Megan Foley Nicpon com 20 citações na área, e na Scopus é Susan G. Assouline com sete citações na área.

Com relação aos “países” que tem mais produção científica na temática DE foi a USA com 195 trabalhos na Scopus e na base de dados WOS com 40 publicações. No entanto, a intensidade de publicação está localizada nos continentes da: África, América, Antártica, Ásia, Europa e Oceania que se fazem presentes na relação estabelecida entre eles, por meio de citações entre trabalhos publicados nas duas bases de dados.

Em conclusão, para responder à questão de pesquisa: Qual o estado da arte sobre dupla exepcionalidade? uma análise temática dos artigos identificou que a DE é quando o estudante é superdotado e tem algum tipo de deficiência ou dificuldade de aprendizagem. Observa-se que existe uma discrepância na concepção, e que essas variações estão ligadas ao tipo de público destinado às políticas de educação especial e da legislação específica de cada País.

Desta forma, compreende-se que a concepção de DE pode variar conforme ao público considerado eletivo para educação especial em diferentes países. É importante notar que a condição de superdotação é comum em todas as pesquisas, o que realmente sofre alteração é a segunda condição, a depender, da deficiência ou dificuldades de aprendizagem e outras. A situação percebida, é refletida também na definição do público da educação especial pela política nacional, que notadamente temos alteração na política estadual de Santa Catarina, ao contemplar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade como eletivo ao atendimento educaçao especializado..

Para futuras pesquisas, pretende-se mapear quais as prática educacionais podem ser adotadas para estudantes com dupla excepcionalidade.

REFERENCIAS

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