
“ImBestigação” da Cooperativa: a primeira coisa que salta do gráfico acima é simples: 805.538 pessoas meteram baixa num ano. Isto representa uma fatia enorme da população ativa empregada. Isto, por si só, explica metade dos problemas de produtividade nacionais sem necessidade de grandes teorias económicas, não se produz quando não se trabalha.
Depois, a divisão por género torna tudo ainda mais claro. As mulheres representam 58,72% das baixas, contra 41,28% dos homens. Ou seja, são responsáveis pela maioria esmagadora das faltas justificadas por doença. E isto não é uma sensação, não é perceção social, é objetivo.
Quando analisamos por escalão etário, o padrão mantém-se em praticamente todos os grupos. As mulheres faltam sempre mais. De 20 aos 29, de 30 aos 39, de 40 aos 49, o mesmo comportamento. Isto significa que o fenómeno não é circunstancial nem geracional. É estrutural e repetitivo.
Se associarmos isto ao argumento do gender pay gap, a coisa muda de figura.
É impossível discutir diferenças salariais sem incluir a variável da taxa de absentismo por género. Um trabalhador que falta mais produz menos. Um trabalhador que produz menos tem, naturalmente, menor retorno económico para o empregador. E o mercado ajusta salários de acordo com isto.
Não é machismo. Não é patriarcado. É matemática elementar.
Quando se acusa empresas de preferirem homens no recrutamento ou de pagarem mais aos homens em média, é preciso olhar para estes números com honestidade. Um empregador prefere quem falta menos. E quem falta menos, segundo os dados, são os homens.
O que este quadro mostra, preto no branco, é isto! Portugal tem um absentismo gigantesco, mais de 800 mil pessoas em baixa num ano é um problema económico sério.
As mulheres faltam substancialmente mais do que os homens, de forma transversal a todas as idades. As análises salariais que comparam as remunerações entre homens e mulheres não contam com este dado, mas na verdade, ao longo do ano, as mulheres trabalham muito menos horas do que os homens, devido ao seu absentismo, parte dele, relacionado com doença.
Isto tem impacto direto em produtividade, previsibilidade e custo salarial.
Logo, é impossível discutir o gender pay gap ignorando estes dados.
A desigualdade salarial não vive isolada num vácuo ideológico. Vive na realidade do dia a dia, quem está mais presente tende a ganhar mais; quem falta mais, tende a ganhar menos.
São estes dados que um país sério analisaria antes de fazer leis, campanhas ou moralismos.
🧵 Quando olhamos para o gráfico das prestações de assistência a filho, a primeira evidência é brutal, mais de 215 mil baixas num único ano apenas porque crianças ficaram doentes. Só este número já mostra o peso que a parentalidade tem no absentismo nacional. Mas o verdadeiro choque está na divisão por género: 80,82% das baixas são tomadas por mulheres, apenas 19,18% por homens. Quatro em cada cinco faltas são da mãe. Isto destrói, de forma objetiva, a ideia de que no cuidado aos filhos existe igualdade de responsabilidades. Em Portugal, quando uma criança espirra, quem falta é a mãe.
Este é o comportamento da nossa sociedade. Tem um preço.
Depois, quando olhamos para os escalões etários, a assimetria torna-se ainda mais evidente. Nas idades críticas da carreira, entre os 30 e os 49 anos, as mulheres chegam a faltar três a quatro vezes mais do que os homens por motivos familiares. Se somarmos isto às baixas por doença própria, onde as mulheres também são a maioria, percebemos que elas acumulam um volume anual de ausências incomparavelmente superior. Esta é uma variável estrutural que não pode ser ignorada quando se discute salários ou progressão.
As empresas não funcionam com ideologia, funcionam com previsibilidade. Quem falta mais, progride menos. Quem progride menos, ganha menos. Não é discriminação, não é patriarcado, é consequência direta de menos horas efetivas de trabalho. A economia não valora o homem; valora a produtividade. E os números mostram que os homens estão mais presentes, não porque trabalhem mais, mas porque faltam menos, tanto por doença própria como por doença dos filhos. Logo, serão mais produtivos.
Quando juntamos tudo, baixas por doença própria e baixas por assistência a filhos, concluímos que a diferença salarial média entre homens e mulheres não pode ser analisada só pelo prisma ideológico. É preciso olhar para o impacto real do absentismo. A cultura portuguesa coloca quase toda a carga do cuidado infantil nas mulheres. E enquanto esse padrão se mantiver, enquanto a primeira pergunta numa casa for “Mãe, posso faltar à escola?” e não “Pai, podes ficar comigo?”, os números vão repetir-se ano após ano.
Não é confortável dizer isto, mas é factual, o mercado não está a penalizar mulheres, está a reagir ao comportamento agregado da sociedade. E enquanto a divisão cultural do cuidado não mudar, a aritmética vai continuar a ser implacável.

🧵Quando analisamos o gráfico das licenças de parentalidade, a primeira impressão até parece promissora: o número total de beneficiários está dividido de forma relativamente equilibrada, 50,98% mulheres e 49,02% homens. À superfície, isto daria a ilusão de que homens e mulheres tiram licenças de parentalidade de forma semelhante e que, portanto, o impacto no mercado de trabalho seria partilhado. Mas isso é só a superfície. Basta olhar para o escalão dos valores pagos para perceber que a história real não tem nada de equilibrado.
No escalão mais elevado, 2501 euros ou mais de subsídio anual, a diferença é brutal: 43.771 mulheres contra apenas 18.380 homens. Não é uma diferença marginal; é um fosso. Este escalão não representa quem recebe mais, representa quem esteve mais tempo ausente, porque quanto maior o valor anual pago, maior a duração da licença. E aqui percebemos a realidade escondida:,os homens tiram licença, sim, mas tiram muito menos tempo. O número de beneficiários é quase igual, mas o custo revela a verdade que interessa: a ausência prolongada continua a ser esmagadoramente feminina.
Nas idades de maior probabilidade de parentalidade entre os 30 e os 39 anos o padrão é consistente. As mulheres têm 52.104 licenças, os homens 47.795. A diferença aqui é pequena, mas enganadora. O que acontece é simples, os homens aparecem na estatística porque tiram os seus 15 ou 20 dias, mas não tiram os 120 ou 150 dias, muito menos os 180 dias, que constituem a parte pesada e prolongada da licença. Por isso é que, quando somamos o valor anual pago, as mulheres disparam nos escalões mais altos: elas é que carregam o volume e a duração da ausência.
Ou seja:
o número de homens a tirar licença parental inicial aumentou,
mas o tempo efetivo continua esmagadoramente concentrado nas mulheres.
E isto tem impacto direto no mercado de trabalho. Uma ausência curta de 20 dias afeta, mas reorganiza-se. Uma ausência de 4 a 6 meses tem um peso completamente diferente numa equipa, numa promoção, num projeto em andamento. E como é sempre a mãe a assumir esse tempo, são elas que continuam a acumular o custo profissional da parentalidade, mesmo quando as estatísticas de beneficiários parecem equilibradas.
Para a discussão do gender pay gap, este gráfico é cirúrgico. Ele mostra que não basta contar cabeças, é preciso contar dias. E, no que toca a dias, as mulheres têm uma desvantagem acumulada que nenhum número de beneficiários esconde. O mercado reage à ausência, não à intenção. E enquanto os homens continuarem a tirar licenças curtas e as mulheres as longas, a diferença salarial média continuará a refletir isso, não como discriminação, mas como consequência direta do tempo fora do trabalho.

Os números apresentados anteriormente assumem outra dimensão quando sabes que 54% dos trabalhadores dependentes são homens, 46%, mulheres, o que não só sustenta as análises acima, como as agrava.

Fonte de informação: https://www.seg-social.pt/ptss/pssd/estatisticas/estatisticas-prestacoes-doenca?type=annual
Em conclusão: depois de olhar para estes números todos sem romantismos nem paninhos quentes, percebe-se que a conversa da desigualdade salarial, tal como costuma ser servida, é uma versão muito resumida e muito editada da realidade. Não é preciso ser génio da estatística para notar o padrão, as mulheres carregam praticamente todo o peso das ausências, por doença própria, pelos filhos, e mais tarde pela parentalidade prolongada. Os homens aparecem nas folhas de registo, claro, mas aparecem como figurantes.
O mercado, que tem a mesma paciência para teorias sociológicas que eu tenho para as convenções do Bloco, reage ao que vê e não ao que é suposto sentir.
Se um dos sexos está sistematicamente mais presente, mais disponível e mais previsível, é inevitável que isso tenha reflexos na progressão e no salário.
A solução não está em decretos nem quotas. Está no óbvio, os pais têm de começar a dividir o trabalho invisível e o visível, o das febres às três da manhã e o das licenças longas que partem carreiras ao meio. Quando o peso for realmente partilhado, não fingido, não ajudado, mas dividido, o mercado acabará por refletir essa mudança. Até lá, continuaremos neste exercício nacional de culpar estruturas misteriosas por resultados que nascem, afinal, dentro da casa de cada uma de nós. Se não queremos alterar, então devemos aceitar a realidade tal como ela é.
Permanece como mistério para mim porque é que as mulheres ficam mais vezes doentes do que os homens…..
Ah, sim, já me esquecia, pelo meio, e já tinha provado isso, a diferença salarial ajustada pelo número de horas trabalhadas, que deduz naturalmente as ausências não remuneradas, é praticamente inexistente.
Para eventual reflexão.
