Por sugestão da irrepreensível cinéfila Mafalda Simão Leal, destacamos, numa panorâmica geral, algumas mulheres no cinema eo seu papel neglicenciado em relação aos homens. Repare-se na técnica avançada de Yuliya Solntseva, cineasta soviética, em Повесть пламенных лет, Chronicle of Flaming Years, a primeira mulher a ganhar um prémio em Cannes, uma Soviética, em 1961. Filme de uma superioridade técnica abismal, é um drama de guerra. Há um documentário na Filmin sobre as mulheres negligenciadas no cinema. Pode descrever-se essa omissão das mulheres no cinema como vergonhosa e, mais grave, como realizadores homens que plagiaram sem dar crédito, como o Ingmar Bergman fez a Agnés Varda no filme Persona, em que posteriormente as cenas de perfil tornaram-se a imagem de marca dele, ou Akira Kurosawa fez à Russa do filme acima referido. Na imagem, dois exemplos: o arco-iris de cima é de um filma da Yuliya Solntseva,anterior ao filme debaixo do Akira “Dreams”, e a imagem de cima é do filme We Were Young da Binka Zhelyazkova, anterior à cena debaixo que é da infância de Ivan do Tarkovsky. Deixamos a recomendação da película em vários capítulos Women Make Film – As Mulheres Fazem Cinema, de Mark Cousins, presente em https://www.filmin.pt/serie/women-make-film-as-mulheres-fazem-cinema.
Em segundo lugar, abordamos, a propósito de filmes históricos da década de cinquenta e sessenta de Hollywood, a superioridade não só da realização mas também na habilidade técnica em geral e na verosimilhança histórica da parte do continente europeu, incluindo Rússia, em relação ao conteúdo mais mainstream e barato, em todos esses aspectos, do filme histórico norte-americano.
Um exemplo pristino é Guerra e Paz, película episodica de origem soviética, de Sergei Bondarchuk, filmada entre 1966–1967.
A superioridade da realização neste filme é bem evidente, assim como a exactidão histórica em pormenores como vestuário da época, muito diferente das liberdades industriais a que a indústria americana sujeitava recriações de períodos quer da antiguidade quer da modernidade. Apesar de lendários em direito próprio, películas como Cleópatra, Ben-Hur, Os Dez Mandamentos, Quo Vadis, podem ser descritas, de modo um pouco severo, como americanada artificial e mal amanhada. Além do vestuário, a maior parte dos cenários destas películas eram artificiais, captados em estúdio. A realização não era também necessariamente autoral, nem dotada de qualidade individual relevante, dominando o produtor e não o realizador, conforme os grandes produtos comerciais que se pretendia que fossem.
Outros exemplos de notáveis películas europeias neste género são Chronicle of Flaming Years (1961), Ivan’s Childhood (1962), The Leopard (1963), The Cranes Are Flying (1957), e até mesmo Macbeth, de Roman Polansky, ou Il Vangelo Secondo Matteo, de Pasolini. Deixamos aqui as sugestões, alguns excertos e uma breve galeria.