Sugestões Literárias: Arquitectura nos Animais e Plantas, o Estilo de Marx, Colonialismo e Cancelamento

Associamos primeiramente o termo arquitectura, e com razão, a construções humanas, ao processo quase invariavelmente consciente e volitivo de planeamento e da passagem do mesmo à construção. É possível, no entanto, utilizar o termo figurativamente em relação a construções do mundo natural provenientes de outros seres vivos ou de fenómenos geográficos, químicos, etc: erosão, formação de cristais, teias de aranha, arranjos estelares como constelações e sistemas planetários, ou até mesmo no mundo atómico e sub-atómico. Para não irmos tão longe, deixamos aqui duas obras sobre concepções figuradas mais acessíveis de arquitectura: a dos refúgios dos animais e a da formação das árvores.

Indicamos também uma obra relativa a uma das dimensões mais negligenciadas do filósofo tão política e programaticamente mal usado, o alemão Karl Marx. Apesar de a maioria das suas teorias já não ter grande aproveitamento nos departamentos de filosofia e muito menos nos de economia, não sendo discutido como autor fundamental para as presentes correntes dominantes, é claro que tem ainda o seu valor. E um dos aspectos mais descurados desse valor é precisamente o seu carácter especificamente literário e não cientifico (dado que a sua tese é hoje cientificamente reconhecida como muito débil): o domínio que Marx tem da metáfora, da alegoria, do processo dialético — no sentido retórico assim como filosófico — e do uso de todas essas figuras simultaneamente para a construção do seu edifício lógico e para a persuasão do leitor. A obra é da autoria de Ludovico Silva, e fica aqui a recomendação. 

E ainda, sobre como um académico inglês, Nigel Biggar, se viu no centro de uma polémica de “cancelamento“ ridícula por alegar de forma historicamente científica que aspetos positivos do imperialismo colonial inglês teriam existido. 

Este é um ponto, entre muitos outros, em que interesses alheios ao trabalho académico (populismos, tribalismos e “activismos” de raiz política, religiosa ou de mera moda social passageira) interferem no mundo das universidades e da publicação universitária. Estes fenómenos não têm nada de novo e acompanham o mesmo padrão que regeu a interferência da igreja, do poder político e dos interesses pessoais na esfera da universidade: o certo é que tais forças acabam por passar ao lado, esmorecer, morrerem, e a universidade continua, já há quase mil anos desde o início da sua história na europa. 

Recomendamos assim o livro “Colonialism: a Moral Reckoning”, que apesar da ridícula campanha de censura, que deixou a Bloomsbury com hesitações covardes e absolutamente miseráveis em publicá-lo, acabou por ser publicado noutra editora, a William Collins. Nas autocracias e nas teocracias, regimes que talvez prefiram, os “activistas” da censura poderiam ter melhor sorte: mas nas democracias liberais, com sólida tradição de discurso e pensamento livre, podem continuar a tentar que nada vão conseguir. As vozes continuarão a ser ouvidas, os livros continuarão a ser editados e o pensamento continuará a circular livremente no reino das academias e na sociedade civil em geral.