Sugestões Literárias: História de Arte, Gulags, a Inexistência de uma Comunidade LGBT

Recomendamos quatro obras fundamentais ou não tão fundamentais da história de arte contemporânea. Primeiro, Janson e Gombrich. Depois, Baxandall e Daniel Arasse. O primeiro é autor de uma dos compêndios de história de arte mais conhecidos. O segundo um teórico importante que escreveu acerca da evolução dos processos ilusionistas na pintura. O terceiro, sobre aspetos técnicos da história e da intenção dos artistas ao compor as suas obras. E o quarto com uma análise fina aos pormenores técnicos ou figurativos na história da pintura ocidental. Mais algumas sugestões aqui.

Depois, um livro que tem sido amplamente citado desde há mais de cinquenta anos, em Portugal e no resto do mundo, por boas razões: O Arquipélago Gulag, de Alexander Soljenítsin, uma das bíblias, talvez a principal, que serviu para desmontar o sonho utópico e desconectado da realidade, muitas vezes partilhado por iludidas elites intelectuais do ocidente, quanto às realidades dos sistemas comunistas da segunda metade do século XX, e que descreve ao pormenor as máquinas de opressão, tortura e morte que os constituíam. A maior parte não durou mais de cinquenta anos após o final da grande guerra; outros foram remodelados/reconstruídos em versões igualmente autocráticas e tendencialmente imperialistas, mas já com a ideologia original completamente de rastos.

Por último, uma perspectiva sobre como a ideia de uma “comunidade lgbt” pode não fazer sentido: não há propriamente um agregado identitário absolutamente nuclear que congregue em absoluto todas essas identidades e práticas. Sendo a única semelhança o estatuto minoritário quanto a práticas e identidades sexuais, poder-se-ia agregar nessa comunidade também os polígamos, as pessoas que têm relações consanguíneas, entre outras sub-divisões (bd/sm, etc.)? Se não, porquê? É uma “comunidade” que constrói a sua identidade por oposição à heterosexualidade normativa? E sendo assim porque não simplesmente considerar que é contra-hetero ou anti-hetero, ao invés de expandir o acrónimo até ao ponto do ridículo (algumas versões actuais postulam já “Lgbtqqiaap2s+”, e é inteiramente possível que não fique por aí)? Deixamos assim o ponto de vista de Eleanor Formby, a sua obra que complexifica o assunto, e um artigo sobre como em sociedades com outros tipos de desigualdades cívicas e políticas mais acentuadas, como no Líbano, o termo agregado faz ainda menos sentido.