“Noise Against Fascism”

 

A generalidade dos leitores interpretará o anglicismo à letra como “Ruido Contra o Fascismo”. Pois como toda a gente sabe e é indiscutível na generalidade dos círculos intelectuais, os fascistas odeiam ruido, não o suportam, tendo o mesmo, conforme já demonstrado cientificamente, o mesmo efeito nocivo que o minério Kryptonita do planeta Krypton sobre o seu mais famoso habitante, o Super-Homem (sendo que os fascistas não são Super-Homens nenhuns).

Esclareça-se aqui, que este ruido não é um ruido qualquer, o “Noise” (ruido) aqui referido é relativo a um género musical. Sim, um género musical, que nas suas manifestações mais extremas, faz parecer qualquer banda de heavy metal e seus subgéneros um musical infantil.

Questionei uma aplicação de IA o que era “Musica Noise” e obtive a seguinte resposta:

“Música noise, ou simplesmente noise, é um gênero musical experimental caracterizado pelo uso de sons não convencionais, como ruídos, estática, feedback e distorção, para criar texturas sonoras agressivas e dissonantes. É um gênero que explora o limite entre som e ruído, muitas vezes abandonando os elementos tradicionais da música como melodia, harmonia e ritmo. “

Não me cabe aqui discutir se a definição da IA é a mais correcta ou não, mas concordo em geral com a ultima frase, como ponto de partida.

Confesso aqui, desde já, ser apreciador de algumas formas deste tipo de expressão sonora, nomeadamente de alguns subgéneros mais ambientais, industriais, rituais e por aí fora.

Em suma este género musical contempla um espectro que vai da sua manifestação mais extrema no subgénero Harsh Noise às formas mais subtis em composições de sons/ruídos gravados na natureza (cascatas, vento, chuva, etc.), sons minimalistas ou misturados de forma a criar várias camadas sonoras a belo prazer de quem os compõe.

Visto isto, a conclusão que se poderá tirar na primeira leitura, é de que este tal género musical que dá pelo epíteto de “Noise”, é na verdade um estilo sonoro de contestação contra o Fascismo. Os fascistas como conservadores, anti-revolucionários, já mais seriam capazes de absorver e interpretar um género musical abstracto e inestético. E nada melhor para enfatizar isso, que criar e promover um género musical que lhes vai ao calcanhar de Aquiles, com marca registada e certificada de Antifascista.

Mas afinal onde estará a origem deste género musical (?), adveio do Punk(?), derivou dos subgéneros mais extremos do Heavy Metal? É uma iluminação mental do bloco soviético?

Na verdade, a ideia do género musical teve a sua origem em 1913, pela mente de Luigi Russolo em uma carta dirigida a Balilla Pratella (Compositor Italiano). “A Arte dos Ruídos – Manifesto Futurista”, a famosa carta/manifesto que está na origem do “Noise”, ou o “som-ruído” como designava Russolo.

“Esta evolução da música é paralela à multiplicação das máquinas (…)”

“(…) É preciso romper este círculo estreito de sons puros e conquistar a variedade infinita dos “sons-ruídos”.”

“Beethoven e Wagner chacoalharam nossos nervos e corações por muitos anos. Agora saciados apreciamos muito mais combinar mentalmente os ruídos dos elétricos, dos motores a combustão, dos carros de roncos ensandecidos, do que reouvir por exemplo, a “Heróica” ou a “Pastoral”.”

“Não se poderá objetar que o ruído seja unicamente forte e desagradável ao ouvido. Parece-me inútil enumerar todos os ruídos tênues e delicados, que proporcionam sensações acústicas agradáveis.

Para convencermo-nos então da variedade surpreendente dos ruídos, basta pensar no estrondo do trovão, nos sibilos do vento, no estrondo de uma cascata, no gorgolejar de um riacho, no farfalhar das folhas, no trote de um cavalo se afastando, nos solavancos trepidantes do carro no asfalto, na respiração ampla, solene e branca de uma cidade à noite, em todos os ruídos que fazem os animais selvagens e domésticos e em todos aqueles sons que a boca humana pode produzir sem falar ou cantar.”

Estes excertos da famosa carta/manifesto, são bem esclarecedores daquilo que ia na cabeça de Russolo para uma nova expressão sonora, o “som-ruído”.

Figura – Russolo e o seu assistente Ugo Piatti no seu estúdio em Milão 1913

Mas afinal quem era este Luigi Russolo, pintor, compositor, pai do “som-ruido” (“Noise” portanto)?

Figura – Auto Retrato com caveiras (Luigi Russolo 1909)

Figura 3 – “Dinamismo de um automóvel” pintura de Luigi Russolo

Imagine-se só, que o criador do “noise”, o senhor do “som-ruido” é nem mais nem menos que um entusiasta Fascista, um dos nomes mais importantes do movimento Futurista, forte impulsionador artístico do Fascismo Italiano.

Como pode ser então? Esses conservadores, antirrevolucionários prestavam-se às artes com expressões não convencionais, inestéticas, futurísticas para a época? Sim, é verdade.

Nunca se ignore que o movimento fascista é na sua génese, revolucionário, anticapitalista, antiburguês, activista, socialista radical, intolerante para com ideias opostas às suas, Futurista (talvez possamos dizer ultra-progressista),

Do anterior, pensem nos partidos e conhecidos que estão constantemente a insinuar-se com o jargão “Antifascista” e vejam lá se não se enquadram activamente no descrito. Parece antagónico, mas não é.

O jargão “Antifascista” valida as expressões culturais da nossa contemporaneidade, mesmo quando se apropria de expressões culturais Fascistas. As correntes que fazem questão de se insinuar como Antifascistas são em tudo semelhantes às correntes efectivamente Fascistas. E isto é maravilhoso, pois é indiscutível que Antifascistas e Fascistas estão em luta pelo mesmo bairro, para impor a todos os moradores a sua engenharia social, o seu experimento de sociedade que é a verdade indiscutível do que é melhor para todos. E o dogma das suas ciências sociais, é inquestionável.

Já vivi o suficiente para ver como movimentos de contestação deste tipo, nomeadamente “Antifascista”, se vão mutando aos sabores da actualidade ao longo das décadas. Na falta de profundidade, criatividade, capacidade critica, conhecimento e imparcialidade, é o vazio que mais afecta estes movimentos. Nada melhor para preencher esse vazio, do que criar uma causa, a luta Anti Fascista, mesmo que, esse inimigo não se conheça bem, e pior, não se perceba as semelhanças e a raiz comum que ambos têm.

Na duvida, todos são Fascistas se não são Antifascistas.

O Antifascismo vende e está na moda, o capitalismo promove-o com “t-shirts”, “totem bags” e cabelos pintados de rosa, verde e azul, por um planeta mais verde, ecológico e claro sem fascistas.

Por ultimo, invoco apenas aos “livres” pensadores a apreciar a arte, não pela arte em si, pois na minha opinião a arte tem um papel transcendente e metafisico, mas entendendo-a como manifestações culturais do homem no mundo, em um determinado contexto que por si só deve ser enquadrado, percebido e degustado.

Só assim entenderemos o antagónico estado da nossa contemporaneidade e do “som ruido”

Se a apropriação cultural de expressões artisticas de raiz Fascista aqui demonstrada é abjecta para Antifascistas, estes que aguardem na torre da sua alta superioridade moral, até perceberem que a poesia moderna que tanto lhes apraz em tertúlias de café e feirantes livrarias, tem como pai Erza Pound. Sim, este ultimo também ele um abjecto Fascista.

“Especuladores bebendo sangue adoçado com m….,

E por trás deles ……f, e os financeiros

Chicoteando-os com arames de aço”

(CANTAR XIV Erza Pound)